sexta-feira, 24 de junho de 2016

O doce silêncio das vontades

- Teus versos são deprimidos, melancólicos e muito pesados. Por falar em peso, tu andas por carregar um do tipo que afunda, pesa bastante e enrijece. Peso este que fora desconhecido, na verdade ainda é, afinal, sentir não é sinônimo de entender.
- Muito engraçado de sua parte tal observação! ha-ha.
- Peço perdão, não tive intenção de julgar, contudo se me observares, verás que não minto.
- Não me interessa sinceridade, tão logo de ti, que deveras sabes a imensa dor de lidar com a verdade. Mentir pode ser a fuga necessária, os olhos que se fecham dentro da mente incessante, constantemente perturbadora. Tu como ninguém entendes a profundidade submunda de seres um ser verdadeiro, deverias portanto parar de alucinar com verdades um mundo que mente a si mesmo, entendeis então que esta é forma perspicaz de sobreviver.
- E me dizes tu? Todo este sermão, da moral enrustida, encrostada em parede de sujeira feito a escuridão de almas tristes? Logo tu, que não conseguiste segurar tua moral em asas de mentira? Logo tu, que carregando tanto peso sobre os ombros, apoiou tua exatidão nos braços da sinceridade? Logo tu, que confessaste o desespero secreto nas entrelinhas dos perdões? Me digas então qual o valor descartado diante de tanta verdade mascarada?
- Pois não digo, me calo. E apenas com meu silêncio seguro em mim toda vontade de dizer, de sentir. Ah de sentir...

(...)

- Não lhe digo pois não entenderias, mas como queres a verdade, posso lhe oferecer o verdadeiro motivo do meu silêncio: não digo porque não quero compartilhar, sou egoísta com isto, sei que é meu, apenas meu e comigo guardo. Sugo de mim para mim tentando entender, sinto vontade de ter alguém para me explicar, mas me calo. Guardo em mim toda vontade, todo desejo, toda necessidade e sigo. Calado e sublime, me sentindo inteiro em meu silêncio, que dentro de mim faz barulho, eu sigo. Com sonhos e planos, através de observações eu caminho. Com poucos sentimentos, mas todos a flor da pele, eu permaneço quieto. Espalhando sorriso, inspiração e conhecimento, eu trabalho. Ainda com a paz de meu silêncio, mas também para manter minha mente ocupada, eu aprendo. Enfim eu vivo, sigo pela minha vida buscando o sentimento de realização, confesso que não conheço sensação melhor que a de dever cumprido. E busco isto para me evitar, esconder meus desejos com sensações que me completam. Meu senhor, como eu amo sentir que sou capaz quando olho para as minhas realizações, é realmente incrível, um sentimento melhor que muitos por aí. Falando neles, que engraçado, não sei lidar muito bem com muitos deles. Talvez por sentir tanto e sentir muito e morrer de sentir e ai, que loucura né, como pode existir tanto sentimento em um ser só. 
- Muito obrigada, e ainda querendo suas desculpas pelo início de nossa conversa, eu gostaria muito que continuasse a expor suas convicções. Me agrada ver que és capaz de exprimir sentimentos tão devastadores sem dizer uma palavra, muito obrigada pela poesia de sua fala.
- Neste momento fico envergonhado e aflito, porém alegre em saber que disse tanto sem dizer muito. Me conforta continuar a reprimir minhas vontades, embora meus olhos estejam fora de controle, acredito que conseguirei entender todo esse processo que passa o meu ser, nas entrelinhas do meu silêncio busco meu entendimento. Não sei ao certo o motivo de minhas ações, se entendê-las fosse minha busca talvez facilitasse algumas coisas. Mas a verdade meu amigo é que busco em mim, ao lado do meu silêncio, entender a mim mesmo. Sou complexo por natureza, e um tanto quanto encantador em minha essência, consigo ser imparcial diante de inúmeras situações, mas não comigo mesmo. Sou solitário, sempre fui, eu e mim são parceiros da vida inteira, neles sei que sou completo. Contudo ainda há muitos detalhes que me preenchem, não por me faltar pedaços, mas por saber que cresço sempre que me adiciono. Posso me adicionar a pessoas, pensamentos, situações e lugares, mas os resultados das somas sempre permanecem em mim e em meu silêncio. Vejo que com minha mente tão lógica e sábia, que sei muito pouco, e poderia aprender muito se me abrisse, se escancarasse meu coração diante daquele sei que perceberia além do que sou capaz, porém a necessidade de me abrir vem exatamente da certeza de que estou certo. Minha claridade é tão exata que meu lado sentimental tem medo. Medo da mudança, sim, há uma parte em mim que se conforta com a segurança, entretanto, meu lado aventureiro anda por se sentir esmagado apenas por ter um porto seguro.


Um abraço pode durar segundos mas permanecer por mes(es).

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